I Simpósio Internacional da ANAMT: Desafios ocupacionais no pós-pandemia

Neste segundo dia do I ANAMT International Symposium on Ocupational Health & Safety, dois especialistas da Finlândia abordaram o tema ‘Desafios Ocupacionais no mundo pós-pandemia. O papel da ICOH International Comission on Occupational Health (ICOH). A primeira palestra foi do Dr. Jorma Rantanen, médico e pesquisador, especialista em saúde ocupacional, professor e diretor geral do Instituo Finlandês de Saúde Ocupacional e ex-presidente da ICOH (2003 a 2009). Em seguida, o tema foi abordado pelo presidente da ICOH, Dr. Jukka Takala.

Ao avaliar a pandemia, Dr. Rantanen destacou que até então o mundo moderno nunca havia vivenciado uma epidemia com as proporções da Covid-19, com características específicas que afetaram principalmente o mundo do trabalho.

“Temos uma distribuição desigual do problema em diferentes partes do mundo. Nos países industrializados estão conseguindo controlar a situação ao passo que o mundo em desenvolvimento ainda está no meio da pandemia. A América Latina no momento parece estar com altas taxas de infecção, ao passo que na África ainda não, e a expectativa é que a África seja mais afetada em um futuro breve, só está um pouco atrasada em termos de taxas de infecção e bem menos preparada do que a América Latina”, observou o especialista.

De acordo com ele, a pandemia afetou fortemente a força de trabalho ao redor do mundo. Entre as consequências, registra-se a acentuada redução da jornada de trabalho, impacto no trabalho informal, declínio da renda e da remuneração. “Muitas pessoas perderam seus postos de trabalho. Em 2020, 81 milhões de trabalhadores foram excluídos do mercado laboral devido à Covid. A pobreza vem se agravando, além dos impactos na saúde”, sinalizou o ex-presidente do ICOH.

Dr. Rantanen enfatizou também a desigualdade na distribuição da vacina ao redor do mundo. Em sua avaliação, os países industrializados tem uma boa cobertura vacinal enquanto os demais não tem, como a África, citou o médico. “Cinquenta por cento das pessoas infectadas são trabalhadores e em alguns países até mais, podendo a chegar a 70%. E são os trabalhadores que sustentam a economia”, enfatizou.

Ao final de sua exposição, Dr. Rantanen defendeu a criação de uma força tarefa para monitorar todos os países para investigar suspeitas de epidemia, embora reconheça ser uma proposta difícil de ser aceita por questões políticas. Ao mesmo tempo, defendeu o desenvolvimento, já em andamento, da vacina spray nasal por entender que seria uma medida mais eficaz para países em desenvolvimento.

Por sua vez, o presidente do ICOH, Dr. Jukka Takala, enfatizou não só as causas de mortes e adoecimento provocados pela Covid -19, mas também alertou para as inúmeras doenças transmissíveis que afetam os trabalhadores no mundo inteiro, especialmente os mais pobres, como tuberculose e malária. Falou também dos índices de câncer nos países industrializados, entre outros fatores que atingem os trabalhadores.

Segundo o Dr. Takala, os casos fatais de doenças relacionadas ao trabalho atingiram mais de 236 mil trabalhadores na América Latina em 2021. “A questão da saúde ocupacional é um direito humano fundamental que deve ser considerado o tempo inteiro, mas sabemos que há muitas manobras políticas envolvidas nessas decisões”, lamentou o especialista.

A seu ver, deveria existir um tipo de compensação para aqueles que adquiriram a Covid no ambiente de trabalho. Além disso, defendeu também a criação de uma cobertura universal da saúde ocupacional, como recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Há muitas doenças que se disseminam com muita facilidade principalmente devido aos processos de trabalho”, finalizou.

Por |2021-10-02T17:09:33-03:002 de outubro de 2021|Eventos|Comentários desativados em I Simpósio Internacional da ANAMT: Desafios ocupacionais no pós-pandemia