18º Congresso: segundo dia retoma debates sobre os desafios do COVID-19

A programação científica deste sábado (10) de 18º Congresso Nacional teve início com uma palestra internacional do secretário-geral da Comissão Internacional de Saúde no Trabalho (ICOH) e diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Seguro de Acidentes de Trabalho (INAIL), Dr. Sergio Iavicoli, mediada pelo assessor técnico com participação na Diretoria de Relações Internacionais da ANAMT, Dr. Ruddy Facci. A apresentação teve foco nas medidas tomadas pela Itália para conter a onda de contágios do COVID-19 e preparar sua força de trabalho para os desafios cotidianos da doença.

A Itália foi o primeiro país ocidental a ser atingido fortemente pelo vírus, numa época em que se sabia muito pouco sobre ele e sua transmissão  o primeiro paciente com COVID-19 foi detectado em 21 de fevereiro de 2020, em uma pequena cidade perto de Milão, na região da Lombardia, no Norte do país.

Foi também pioneiro em adotar medidas rígidas de confinamento, primeiro em nível regional e depois em nível nacional, que incluíram restrições à circulação de pessoas e fechamento de empresas (com exceção de supermercados e farmácias). Mesmo com o eventual relaxamento dessas restrições, medidas restritivas, como o uso de máscaras, ainda são amplamente respeitadas, segundo o palestrante.

Ao longo da exposição, Dr. Sergio apresentou as contribuições científicas e dossiês publicados pelo INAIL nesse período para orientar os cidadãos e as autoridades sanitárias nacionais. Também foram explicados os métodos de classificação de risco alguns dos principais setores de trabalho, suas variáveis (exposição, proximidade, aglomeração), matrizes de risco, estágios de prevenção, compensações financeiras oferecidas para cada faixa etária da população, a falta de EPIs, entre outros pontos.

Uso de informações na saúde

Na segunda conferência do dia, Dr. Enrico De Vettori, chief operating officer do UnitedHealth Group Brasil, falou sobre o Health Analytics, ferramenta que usa os dados dos pacientes da sua base para elaborar projeções sobre as demandas de saúde que poderão ser necessárias futuramente.

Ele explicou que os dados não são estáticos, podendo ser alterados de acordo com a evolução da empresa em questão, assim como ressaltou a importância de ter somente uma fonte dessa informações para evitar choques de gestão e governança. Entre os exemplos citados pelo palestrante no uso do software, está a gestão de leitos disponíveis e as características identificadas nas unidades destinadas a pacientes de Covid-19, como uso de medicamentos específicos por mais tempo e mudanças de perfil de acordo com a idade dos pacientes internados. A indústria farmacêutica foi outro exemplo de uso mencionado, especialmente no caso da aplicação de vacinas contra a Covid-19, para rastreamento de eventuais efeitos colaterais e falsificações.

O palestrante também lembrou que o recurso possibilita o uso mais adequado dos atendimentos realizados pelos planos de saúde, já que a base de dados e o machine learning possibilitam ganho de velocidade nos diagnósticos, procedimentos mais precisos e por consequência, redução de custos. Além disso, o programa consegue identificar os pacientes conforme a frequência de uso dos serviços de saúde e aqueles que o fazem de forma consciente, o que auxilia em atendimentos mais precisos e campanhas de conscientização.

“O papel do médico na saúde primária é convencer os gestores que, se ele tem informação, tratará melhor os pacientes”, alertou Dr. Enrico, destacando que o uso da tecnologia na saúde não substituirá o médico, mas o profissional terá o recurso como suporte para o seu trabalho.

Converse com especialistas

A partir das 11h, o bloco simultâneo de palestras “Converse com Especialistas” abordou diferentes áreas temáticas de interesse para o Médico do Trabalho.

Dúvidas em torno da ortopedia foram esclarecidas pelo médico ortopedista na Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal e Hospital das Forças Armadas, Dr. Marcello Oliveira Barbosa. Já a coordenadora do Departamento de Doenças Otorrinolaringológicas do Trabalho da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) e médica do trabalho, Dra. Mara Gandara, abordou questões em torno da otorrinolaringologia. Conflitos éticos em Medicina do Trabalho e a gestão da SST para COVID-19 foram abordados, respectivamente, pelo médico clínico geral Dr. Carlos Magno Dalapicola e o médico do trabalho Dr. Octavio Augustos Oliveira.

A Firjan SESI deu continuação aos debates com uma apresentação sobre longevidade e reabilitação como estratégia para gestão da inclusão, com as coordenadoras Noélly Cristina Harrison Mercer, de Promoção da Saúde, e Eliane Damasceno, de Projetos Integrados de Responsabilidade Social.

Ao longo da exposição, as palestrantes demonstraram o surgimento e a evolução da chamada “cidadania empresarial” a partir das décadas finais do século XX, quando novas tendências econômicas, culturais e sociais levaram as empresas a adotarem responsabilidade para com o bem-estar social. Nesse contexto, a construção de um ambiente ainda mais inclusivo e aspectos de inclusão de reabilitados e da longevidade do trabalhador se tornaram cada vez mais presentes.

Para as palestrantes, é preciso abraçar as mais diferentes faixas etárias, com o foco na prevenção e na capacidade para o trabalho por mais tempo. No evento, a Firjan SESI também contou com um estande virtual para apresentar os serviços da instituição, entre eles, a nova ferramenta SESI Viva +, que oferece apoio no desenvolvimento de estratégias de saúde integrada do trabalhador.

Ações da saúde ocupacional

A Dra. Camila Nogueira, da Fundação São Francisco Xavier, dá continuidade às apresentações, abordando as iniciativas da instituição no enfrentamento da pandemia de Covid-19. Após apresentar o histórico do avanço da doença desde 2019, na China, ela explicou o impacto inicial da mesma na Fundação, com assistência aos trabalhadores sintomáticos gripais, esclarecimento de dúvidas e manejo de afastamentos.

Segundo ela, a área de saúde ocupacional assumiu um papel de protagonismo na instituição por conta do quadro, com novas demandas, como readequação dos ambientes de trabalho, implementação de plano do contingência, aumento do absenteísmo, orientações periódicas para os trabalhadores e promoção da saúde para identificação de agentes de risco e evitar a propagação da doença no ambiente de trabalho.

Entre as iniciativas desenvolvidas, implementação do teletrabalho ou trabalho híbrido, adoção da telemedicina, aumento da disponibilização de itens de higienização e materiais de orientação sobre a doença e sobre ergonomia e ginástica laboral para os funcionários em teletrabalho.

Também foram realizadas testagens estratégicas para mapear eventuais casos positivos da doença e promover o isolamento adequado, gestão da vacinação, além de cuidados com a saúde mental das equipes, em especial profissionais na linha de frente do combate à doença, que apresentaram queixas inclusive de constrangimento social.

Para a médica, os próximos desafios são a atenção à saúde mental, eventuais mudanças na legislação trabalhista por conta do crescimento da adoção do home office, fadiga mental e física e educação da população. “Parte das pessoas ainda não entende que as ações individuais são importantes”, destacou a médica.

Saúde mental

Mudanças de humor, tristeza, ansiedade, apatia, culpa, descontentamento geral, desesperança, perda de interesse, solidão, sofrimento emocional, automutilação, choro excessivo, irritabilidade e isolamento social. Esses são alguns dos sintomas de quem sofre de transtornos mentais e comportamentais. As condições dos ambientes e dos processos de trabalho das pessoas podem desencadear esse tipo de adoecimento.

A saúde mental foi o tema da conferência com o Dr. Carlos Guilherme Figueiredo, médico psiquiatra da Secretaria de Economia do Distrito Federal (GDF) e vice-presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr). Ao longo da exposição, o palestrante abordou as influências genéticas e ambientais para a decorrência de transtornos mentais, a necessidade de tratamento contínuo desde o início, custos diretos e indiretos dessas doenças, entre outros pontos.

Dados do relatório The Global Economic Burden of Non-communicable Diseases, publicado pelo Fórum Econômico Mundial e a Escola de Saúde Pública de Harvard, afirmam que 25% de todos os pacientes que usam um serviço de saúde sofrem de pelo menos uma doença mental, neurológica ou comportamental.

Ainda de acordo com o documento apresentado pelo conferencista, menos de 70% de todos os países da Organização Mundial da Saúde (OMS) têm programas de saúde mental e menos ainda têm orçamentos de saúde mental designados dentro do seu sistema nacional de saúde. A maioria dos países de baixa e média renda dedica menos de 1% de seu orçamento de saúde para cuidados de saúde mental.

Por |2021-04-10T15:55:21-03:0010 de abril de 2021|Eventos|Comentários desativados em 18º Congresso: segundo dia retoma debates sobre os desafios do COVID-19