18º Congresso: Pondé e conferência internacional abrem programação científica

Na primeira atividade do dia 9 de abril, a presidente da ANAMT, Dra. Rosylane Rocha, mediou o talk show com Luiz Pondé, filósofo e diretor do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP.

O palestrante explicou que, cada vez mais, mundo do trabalho e mundo privado se confundem, o que se acentuou com a pandemia de Covid-19, cujo alcance foi mais ágil que outras pandemias da história da humanidade por conta da velocidade dos meios de transporte intercontinentais.

Nesse contexto, ele pontuou que cada vez mais o mundo do trabalho se tornará um agente social, já que questões não abrangidas pelo setor, como assédio moral e preconceito, passam a fazer parte do cotidiano das empresas, o que também engloba a abordagem da pandemia, já que debates sobre formas de contê-la, como a compra de vacinas pelas companhias, estão ocorrendo. Essa mudança de papel, segundo o filósofo, também abrange os médicos do trabalho, já que a especialidade lida com esse aspecto. “A medicina do trabalho vai deixando de ser paulatinamente um cumpridor de normas para uma área de importância direta para a sociedade por conta da importância do trabalho no significado na vida”, destacou.

Pondé ainda destacou o crescimento da ansiedade no mundo do trabalho, ocasionado por aspectos como os protocolos de controle da produção, que afeta trabalhadores jovens e mais velhos igualmente, mas por motivos distintos, como a importância do conhecimento do mundo digital, mais presente entre pessoas mais novas, que, por sua vez, precisam ascender mais rápido em suas carreiras por conta de perdas de espaço que ocorrem à medida que envelhecem.

Ao final da apresentação, Dra. Rosylane destacou o aumento da demanda de trabalho da especialidade por conta das necessidades trazidas pela pandemia e os desdobramentos na vida dos profissionais da área de SST, o que o palestrante explicou que deveria ser uma oportunidade para a classe demonstrar sua relevância e as empresas contratarem mais médicos do trabalho. “É o momento de mostrar o protagonismo, excelência e virtudes”, concluiu.

Atuação nas Américas

O circuito de palestras científicas dessa manhã teve início com a presença da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), escritório regional da Organização Mundial de Saúde (OMS), representada pela consultora nacional para Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador Dra. Priscila Campos Belo. Fundada em 1902, a OPAS é a organização internacional de saúde pública mais antiga do mundo e é a agência especializada em saúde do sistema interamericano.

Ao longo de sua exposição, a conferencista explicou como a entidade trabalha com os países das Américas para melhorar a saúde e a qualidade de vida de suas populações. Entre os diversos aspectos de atuação da agência está a promoção da equidade na saúde do trabalhador e o enfoque para os ambientes de trabalho, onde o médico do trabalho desempenha um papel fundamental.

“O campo da saúde do trabalhador na Região das Américas exige uma abordagem ampla e atuação em grandes eixos”, afirmou. Entre eles, estão: o fornecimento de cooperação técnica por meio de enfoques preventivos; o fortalecimento de todo o arcabouço regulatório e liderança do setor de saúde entre os estados membro; a prevenção de doenças, lesões e óbitos no trabalho; o alcance à saúde universal; e o apoio a setores econômicos críticos, considerando seus impactos no contexto laboral.

A palestrante apresentou o Plano de ação sobre a saúde dos trabalhadores 2015-2025, que apresenta objetivos e indicados voltados para o bem-estar dos trabalhadores, com ênfase naqueles que estão em condições de emprego inadequadas e nos que estão expostos a situações de trabalho perigosas.

De acordo com a Organização, as crises econômicas e as mudanças no mundo do trabalho produziram uma desaceleração do desenvolvimento, traduzida em um menor crescimento para a Região das Américas. De 2013 a 2014, houve uma redução nos índices de participação laboral (de 60,3% a 59,9%) e de ocupação (de 56,5% a 56,2%). Isso se deveu ao dinamismo da economia e à falta de criação de empregos, o que afetou mais as mulheres e os jovens, com um aumento do trabalho informal e outras formas de emprego vulnerável.

Desafios para atuação na pandemia

A presidente da Associação Latinoamericana de Saúde Ocupacional (ALSO), Viviana Gómez-Sanchez, ministrou a conferência internacional A Atuação do Médico do Trabalho na Pandemia de Covid-19. Ela explicou que, diante do pouco que se sabe sobre a doença, é a primeira vez em muitos anos que a especialidade e os demais profissionais da área de SST estão sendo mais vistos e escutados pela sociedade. Ela lembrou aspectos fundamentais da especialidade, como o papel preventivo, e a busca pelo bem estar físico e social dos trabalhadores.

Ela destacou que grande parte da população das Américas compõe a força de trabalho desses continentes, inclusive os trabalhadores informais, e que se trata da região com maior número de profissionais de saúde infectados no mundo. Aspectos como EPIs insuficientes, condições inseguras de trabalho, sobrecarga nas jornadas de trabalho e o impacto mental são alguns dos principais problemas do setor.

A importância da atualização dos médicos do trabalho sobre a Covid-19, com uso de informações de fontes confiáveis, assim como estabelecer medidas de controle, planos de contingência, protocolos de prevenção de riscos e auxiliar no programação de vacinação estão entre as atribuições destacadas pela palestrante. Em relação às associações profissionais da especialidade, ela destacou as atribuições das mesmas nesse contexto, como organizar atividades, prestar serviços comuns ao interesse da classe e assessorar as autoridades.

Viviana também destacou a importância dos médicos do trabalho serem o melhor exemplo possível nesse momento, com responsabilidade e empatia.

Estratégias para prevenção da saúde

A programação científica teve sequência com um simpósio dedicado à ergonomia e o estudo do ambiente no qual o trabalho é realizado, apresentado pela Dra. Paula Quintas de Melo, especialista da Firjan SESI. A palestrante iniciou sua apresentação abordando as características fundamentais por trás do tema.

O termo Ergonomia vem do grego ergon, que significa “trabalho”, e nomos, que quer dizer “leis ou normas”. Pode-se dizer que a ergonomia é o estudo científico das relações entre “homem e máquina” e se preocupa com a segurança e eficiência do modo com que aqueles dois interagem entre si e com o meio. Por isso, trata-se de uma ferramenta importante para influenciar diretamente na capacidade produtiva e na saúde do trabalhador.

Entre outros pontos, a palestrante explicou os três campos de abordagem da ergonomia o campo físico (biomecânica da tarefa), o campo cognitivo (aspectos psicológicos) e o campo ambiental (área organizacional; meio ambiente do trabalho), a multidisciplinaridade da ciência e os parâmetros estabelecidos pela Norma Regulamentadora (NR17).

O tema da prevenção da saúde no ambiente de trabalho teve continuidade na exposição do técnico em Segurança do Trabalho, Dr. José Nivaldo Barbosa, que abordou a trajetória do Abril Verde e sua criação na Paraíba. Iniciativa de participação espontânea, o movimento nasceu em 2014 para promover a adoção de uma cultura permanente de prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. A escolha deste mês para a realização da campanha é respaldada por duas datas importantes: o Dia Mundial da Saúde, comemorado no dia 7 de abril, e o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, no dia 28 de abril.

Mudanças na especialidade

Na segunda conferência do dia, a presidente da ANAMT, Dra. Rosylane Rocha, abordou as mudanças ocorridas na medicina do trabalho desde o surgimento da especialidade, em 1700, com a publicação do livro As Doenças dos Trabalhadores, de Ramazzini, considerado o pai da especialidade. Na abordagem, perguntar o paciente qual é o seu trabalho para analisar a correlação do mesmo com a doença em questão é abordada desde essa época.

Dra. Rosylane também pontuou as diferenças de abordagem do tema com o passar dos anos desde o século XIX, com a importância de conhecer o local de trabalho, as pessoas e o processo produtivo da empresa. A mais recente, em 1985, denominada Etapa de Qualidade de Vida. A especialista pontou que, após isso, incluiria 2020 como um novo marco, por conta da necessidade de reinvenção que a especialidade precisou desde o começo da pandemia de Covid-19. Além disso, ela lembrou que medicina do trabalho requer dos especialistas domínio de conhecimento multidisciplinar, em áreas como direito médico, psiquiatria, legislação e reumatologia.

Ela ainda destacou as competências essenciais requeridas para o exercício da medicina do trabalho, como atenção integral à saúde dos trabalhadores, juízo moral e avaliação dos riscos para proteção à saúde. A abordagem de outros temas relacionados à saúde no local de trabalho, como campanhas de não violência e prevenção a acidentes de trânsito, também podem ser tratadas, pois estão integradas ao convívio em sociedade.

No contexto da pandemia, Dra. Rosylane lembrou as iniciativas feitas pelos médicos do trabalho, como elaboração de protocolos compatíveis com os documentos de enfrentamento da pandemia, cumprimento de atribuições legais e gestão de SST.

“A medicina do trabalho é o primeiro e único atendimento médico de muitos trabalhadores com sintomas de Covid-19 e suas famílias. Além disso, os trabalhadores que já tinham outras doenças e não obtiveram atendimento nos ambulatórios, que foram destinados somente para casos de Covid-19, passaram a ser atendidos pelos médicos do trabalho”, destacou Dra. Rosylane.

Ela ainda destacou a importância de realizar os exames médicos ocupacionais de forma detalhada, já que, por meio deles, é possível coletar dados dos pacientes e torna-los informações de saúde e conhecimento.

“É um momento difícil para todos nós, mas é preciso ter o olhar de valorizar mais a especialidade, trabalhar o presente construindo um futuro melhor para a medicina do trabalho”, concluiu.

Por |2021-04-09T16:08:55-03:009 de abril de 2021|Eventos|Comentários desativados em 18º Congresso: Pondé e conferência internacional abrem programação científica