Dia Internacional da Mulher: ANAMT reúne depoimentos de médicas sobre a Covid-19

Neste dia 8 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Para celebrar a força feminina, a ANAMT preparou um especial com relatos de mulheres que fizeram a diferença ao longo do último ano, marcado por muitos desafios e aprendizados, principalmente para as mulheres que trabalharam na área da Saúde.

Reunimos histórias que marcaram médicas do trabalho das mais diversas regiões do país. Confira abaixo suas histórias:

“Em anos anteriores, tive a oportunidade de escrever sobre esse dia. Com muito orgulho falei sobre o que, por muitos anos e por muita gente, foi considerado o sexo frágil. De frágil nada há, e isso ficou devidamente provado. Neste ano e nesta data, há que se lembrar que mulheres continuam combativas e, no setor saúde, estão mostrando, mais ainda, que não se furtam quando é preciso estar na linha de frente. Não que não tenham receio de pegarem Covid-19.

‘Quem não está preso pela necessidade, está preso pelo medo. Uns pela ansiedade de ter coisas que não têm. E outros, não dormem pelo pânico de perder as coisas que têm.’ Frase de Eduardo Galeano. Como se tivesse escrito agora, nessa pandemia. Estamos com receio. Com medos de perdas de vidas e de outras coisas.

Entretanto, maior que o receio, é o senso da responsabilidade enquanto profissional médica, por ter plena consciência do quão somos importantes neste cenário de tanta dor e luto, e tanto a fazer para minimizar tal quadro.

Exaustas no final das jornadas de trabalho, sobra pouco tempo para expressar amor de modo presencial aos entes queridos e deles receber a mesma demonstração. Por causa das regras necessárias para evitar contaminações, a demonstração de afeto é acompanhada mais de olhares e gestos que de abraços e beijos calorosos. Amor acanhado de se mostrar por inteiro, mas, de qualquer forma, presente, como um pouco de sol num dia nublado. Aquece. Diante disso, é preciso não perder a fé no dia de amanhã, na esperança do anúncio de um remédio que poderá ser noticiado como cura promissora para Covid-19. Diante disso, é comum o adormecer com o corpo cansado demais pelo dia atribulado, mas com a esperança alerta pelo porvir.

Quero escrever, no Dia Internacional da Mulher, sobre a alegria de ser uma delas. Quero escrever as palavras esperança, amor e fé. E sobre a alegria de ser mulher. Não falo apenas por mim. Falo, também, pelas mulheres que conheci e conheço e pelas que não conheço; mas sei suas histórias de lutas e conquistas. Nas diversas faixas etárias. Falo pelas que estão tristes por tantos motivos, mas que não desistem do seu papel enquanto cidadãs do mundo. E continuam lutando. Falo por todas as heroínas, mesmo sem os aplausos ou prêmios que as reconheçam como tais, e que pouco se importam se os tem ou não, porque lhes basta saber como são e o que valem.

Nossos receios estão presentes no dia a dia. A Covid-19 mata impiedosamente. Se não o faz, maltrata, e isso assusta. Mas a esperança supera esses receios. E a fé supera ambos. Por isto, desejo que no Dia Internacional da Mulher possamos ressignificar tudo aquilo que possa tentar reduzir nossos passos, limitar nossas forças e nos intimidar.

Que prevaleça o bom senso e que a coragem continue presente. Que continuemos sendo alento para muitos e saciando fome e sede de afeto; compreendendo que o momento exige mais tolerância e abnegação, e que sejamos capazes de deixar o registro dos nossos atos de agora para orgulho dos nossos descendentes. Parabéns, com muito orgulho, mulheres! Parabéns, com mais orgulho ainda, mulheres médicas!

Essa pandemia passará. Nosso modo de agir durante ela deixará marcas. Como vencedoras. Vencer não implica em não ter derrotas. Vencedora é quem, apesar de algumas derrotas, continua no front, porque sabe que seu objetivo é resistir enquanto puder.

Lembranças da pandemia serão tristes, enquanto lembranças de como a enfrentamos, nos deixarão com a certeza de sermos Vencedoras. Ser mulher é saber ser capaz de mudar a realidade para melhor. Viva o Dia Internacional da Mulher!”

Dra. Edenilza Campos de Assis e Mendes

“Em março de 2020, quando apareceram os primeiros casos de Covid-19 em Manaus (AM), realizamos o afastamento dos colaboradores pertencentes ao grupo de risco, de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde. À medida que foram aparecendo casos na empresa, fazíamos o atendimento inicial e incluíamos uma lista para realizar o telemonitoramento.

Estava tudo sob controle até vir a segunda onda em janeiro de 2021. Ou melhor, o tsunami, como descreveu o diretor do hospital ao qual a empresa é conveniada. Em uma população de cerca de 1.000 colaboradores, chegamos a ter 150 afastados em apenas um único dia. Tivemos que iniciar uma força-tarefa para conseguir prestar um bom atendimento a esses pacientes. Mais médicos foram contratados temporariamente, estendemos nosso horário de trabalho, a empresa adquiriu testes para fazermos o diagnóstico precoce, pois o plano de saúde estava saturado.

Hoje comemoramos porque já não possuímos colaboradores em acompanhamento e também não tivemos óbito! Nossa foto com a camisa de super-heróis representa o quanto lutamos para enfim vencer essa luta!

Dra. Sthefanie Cavalcante

“Este último ano foi difícil, longe da família, sofrendo à distância quando um adoecia, sem poder intervir. Pior momento foi ter tido a Covid-19 na mesma semana que meu marido internava no Einstein, em São Paulo, pela mesma doença. Momentos de angústia, desespero ao vê-lo agravar, e eu sendo forte em não demonstrar o quão debilitada eu estava me tratando em casa, sozinha, só com a ajuda do meu infectologista, dos colegas e sogra médica, ou indo ao hospital para exames. Sentimento de impotência ao ver tantos amigos, familiares e conhecidos adoecerem mesmo com tantos cuidados.

Ao mesmo tempo, foi um ano importante onde eu, como representante da saúde, fui alçada a um protagonismo dentro da empresa à frente, junto com o Comitê de crise e liderança, das formulações dos procedimentos preventivos e preparação para este “novo normal”. Tempo de muito trabalho, de “levantar as mangas”, de ser resiliente para saber enfrentar as adversidades, de festejar a recuperação dos meus pacientes, de ser uma fortaleza para aguentar o peso de decisões envolvendo milhares de vidas.

Ano de aprendizagem, de ser uma médica mais assertiva, focada no trabalhador e na empresa, mas também na família. Ano de renovação.”

Dra. Adriana Jardim Arias Pereira

“Não é fácil trabalhar atendendo colaboradores com suspeita de Covid-19. Alguns que são internados, alguns óbitos… Enquanto isso, a população finge que nada está acontecendo, continua com comportamento irresponsável e sem pensar no coletivo”
Dra. Jaqueline Menz


“Seja durante o atendimento na Medicina do Trabalho ou durante o atendimento assistencial, o cuidado, a atenção e a responsabilidade sempre foram os mesmos. Estamos em atenção constante a todos à nossa volta. Não está sendo fácil, espero que esta pandemia termine logo e da melhor forma, para que possamos voltar ao nosso normal!

A Medicina me dá oportunidades incríveis diariamente, mas essa pandemia foi algo inimaginável. Mas iremos vencer. A todos os colegas de trabalho, continuemos firmes até o final e, aos que perdemos no caminho durante essa batalha, fica a lembrança, a saudade, os ensinamentos e a certeza de que tudo foi feito da melhor forma possível e que tudo isso passará!!!

Dra. Renata Aquino Coêlho de Macêdo


“Desde o início da pandemia estou na linha de frente. Muitas vezes entrei em pânico. Primeiro, porque tudo era incerto e ouvíamos relatos de casos de outros países. Os meses foram passando e o vírus chegou do nosso lado fazendo-nos entrar em pânico novamente. Não tínhamos estudos ainda, nem vacinas e nem um tratamento eficaz.

Chegou de mansinho, mas foi devastador. Chegou levando parentes, amigos, colegas de trabalho e nossos dias foram ficando mais cinzas pelas perdas irreparáveis. Hoje, no pronto-atendimento José Adelino, em Porto Velho (RO), onde atendo desde o início da pandemia, vivo dias tristes. E está ficando cada dia pior, com a unidade cheia de pacientes gravíssimos sem termos para onde transferir.

Em cada batalha perdida, o coração se dilacera mais. Parece que estamos em um campo de concentração. Mas, quando somos surpreendidos por pacientes que foram atendidos, medicados e cuidados por nós, que retornam somente para agradecer, a vontade é de chorar de alegria e sair gritando aos quatro ventos que vencemos, que salvamos uma vida!

Nessa pandemia, temos os dois lados: a tristeza de vidas que se foram e a alegria de vidas salvas. Para nós, que estamos na linha de frente, tudo é incerto, inesperado. Mas acima de tudo, não perdermos nossa FÉ!!!”

Dra. Jucelia Ricardo Talau

“Meu nome é Maria Júlia e este mês fiz um ano como médica do trabalho. Nunca imaginei que este ano seria assim. Ao longo deste ano vivenciei o que a residência de Medicina do Trabalho nunca me ensinaria, infelizmente. Vi o desespero das demissões em massa, o medo da doença e a angústia pelo como seria o amanhã. Vi as mulheres gestantes estando em uma posição desfavorável como já o eram simplesmente por ser mulher, mas também em uma posição de desamparo e pavor. Eu, como mulher, sentia na pele essa dor, tinha a empatia do gênero.

E o que aprendi nesse ano? Que nós mulheres somos fortes e nós, como médicas do trabalho, ainda somos minoria. Mas, juntas, podemos ser grandes! Feliz Dia das Mulheres a todas nós que diariamente estivemos e estamos sim na linha de frente, mesmo sem muitas vezes ter o reconhecimento devido”.

Dra. Maria Julia Rosário


“Hoje é um dia muito triste para mim. Perdi meu exemplo de vida, meu pilar, o motivo pelo qual entrei na Medicina e que me fez amar a saúde ocupacional. Um médico exemplar, que jamais abandonou o campo de batalha. Atuou fortemente na luta e prevenção contra a Covid-19, mas que pessoalmente perdeu essa luta, vindo a falecer pelas consequências dessa terrível doença.

Um dos melhores médicos do trabalho que já presenciei atuando. Sempre trazendo bases sólidas de clínica médica e pneumologia (sua primeira formação), atuando em prevenção e diagnóstico precoce de agravos.

Essa pessoa linda e iluminada, pude chamar por muitos anos de tio. Meu coração chora, mas vou continuar na luta!

Descanse em paz, Dr. Marcos Antonio Aranda.

Continuarei com muita destreza sua missão na terra”.

Dra. Vanessa Cristina Aranda Batocchio Bressan


“Na Medicina do Trabalho, uma área quase predominantemente masculina, é um desafio constante ser uma médica mulher. Porém, é muito gratificante ganhar o respeito e confiança dos pacientes/colaboradores com o tempo, quebrando muitos preconceitos e barreiras. Feliz Dia das Mulheres a todas as batalhadoras!

Dra. Carolina Oba


“Lá se vai um ano de pandemia. Dias atípicos, um ano para a história! Dias de muito trabalho e de agradecimento a Deus pela vida! Um ano em que aprendemos a valorizar coisas simples da vida. Aprendemos valorizar mais a família, os momentos juntos, descobrimos quem são os amigos verdadeiros, percebemos a falta que nos faz um abraço, um beijo, um toque de carinho. Um ano de mais cuidado consigo mesmo e com o próximo.

Quantas vidas perdidas… Tivemos que nos reinventar. Longe da minha família (meus pais, irmãos e sobrinhos) não foi fácil. Sensação de medo, de perda e ao mesmo tempo uma grande vontade de ajudar a quem precisava. Trabalhei esse tempo e continuo trabalhando em ambulatório de empresas fazendo atendimento, orientando e cuidando ainda mais dos nossos trabalhadores. Aprendi a valorizar mais o presente e a expressar mais a minha gratidão pela vida”.

Dra. Flávia Lopes Flores de Sousa

“Com a chegada da Covid-19 no Brasil, um vírus antigo com uma nova apresentação – muito agressiva, com alto grau de contágio e ainda sem protocolos de diagnóstico e tratamento bem definidos – as reuniões científicas da ANAMT e os guias práticos de prevenção à Covid-19 desenvolvidos pela associação foram fundamentais para embasar as minhas condutas dentro da empresa, como: monitoramento dos colaboradores afastados devido a infecção pela Covid-19, os cuidados no isolamento domiciliar, as medidas de prevenção à disseminação do vírus, a realização dos exames para diagnóstico e o uso correto das máscaras.

Além disso, o apoio e entendimento de todos os profissionais da empresa, dos técnicos de enfermagem e as ligações e mensagens positivas dos familiares foram essenciais para que fosse feito um bom trabalho, tendo sempre em vista o cuidado com a saúde dos colaboradores”.

Dra. Flávia Skipka Salgado

Por |2021-03-11T11:20:04-03:008 de março de 2021|Especial Coronavírus (COVID-19)|Comentários desativados em Dia Internacional da Mulher: ANAMT reúne depoimentos de médicas sobre a Covid-19