RBMT divulga edição sobre mineração e desdobramentos de Brumadinho

A Revista Brasileira de Medicina do Trabalho (RBMT) publicou uma edição especial com três artigos sobre o acidente de Vale em Brumadinho (MG) e o setor de mineração em geral. Organizado pelas editoras-chefe Profª Frida Fischer e Profª Elizabeth Dias, os textos tratam de outros rompimentos em barragens da área, origens históricas do acidente e questionam os fatos que levaram à ocorrência do mesmo.

“Temos buscado valorizar não apenas a qualidade e rigor científico dos artigos publicados, mas também a atualidade e utilidade dessa produção, em sintonia com as necessidades e demandas sociais”, explica Profª Elizabeth Dias sobre a edição e o convite aos pesquisadores que assinam os artigos.

“Após Mariana, a ocorrência de tragédia semelhante na Mina do Feijão, em Brumadinho, reforçou a necessidade de se buscar conhecer mais sobre o problema de modo a subsidiar o cuidado da saúde da população e mitigação dos danos, tanto no plano mais imediato, quanto na prevenção à médio e longo prazos. Pode-se ter uma ideia da gravidade do problema quando se pensa que em Minas Gerais há cerca de 400 barragens em situação semelhante”, acrescenta a editora da RBMT.

Um dos autores do artigo “Origens históricas e organizacionais do desastre da barragem do Córrego do Feijão”, Dr. Ildeberto de Almeida explica que o texto pontua que o rompimento faz parte de vários aspectos que levaram ao acidente, assim como seus desdobramentos.

“No texto, se chama atenção para o fato de que essa história continua no tempo levando a impactos de saúde, ambientais, sociais, jurídicos, de curto e de longo prazo. Reconhecê-los exige adoção de estratégias de busca ativa a serem mantidas no tempo considerando a necessidade de abordar toda a população atingida. No caso de Brumadinho, isso implica considerar todo o território atingido pelos rejeitos e as populações cujo abastecimento dependida dos rios afetados, por exemplo. Em Mariana, estudos mostraram impactos na ocorrência e distribuição de doenças como a dengue”.

Dr. Laerte Sznelwar, um dos autores do artigo “Brumadinho: entre a prudência e a probabilidade, a tragédia”, pontua que é preciso levar em consideração os riscos, ainda que estatisticamente a probabilidade de acidente seja baixa, e monitorar o local:

“Toda engenharia é feita com margens de manobra, segurança. O importante é como você interpreta o que está acontecendo e na hora das decisões, o que considera. No caso de grande monta, as pessoas partem do pensamento que a probabilidade é baixa. Deve-se agir com prudência. Outra coisa importante que é desconsiderada, é o saber dos trabalhadores da operação e quem está na gerência direta. Essas pessoas têm conhecimento e sinais que não chegam para a direção”.

Meses após o rompimento em Brumadinho, as consequências do acidente para trabalhadores e moradores locais afetam a saúde, o cotidiano e a economia local. Para evitar que novas ocorrências semelhantes ocorram, mudanças legislativas foram feitas e o trabalho de diversas áreas deve continuar por mais tempo.

“Minas Gerais aprovou, em fevereiro de 2019, uma lei que estabelece normas de segurança para as barragens destinadas à disposição final ou temporária de rejeitos de mineração do Estado. Não é suficiente, mas é um começo. Mas ainda há muito por fazer em todos os planos para o cuidado das pessoas que sofreram e continuam sofrendo com a violência, expressa em formas diversas de adoecimento físico, mental e danos sócio culturais. Além disso, são necessárias iniciativas variadas para mitigar os danos ambientais e garantir os procedimentos de punição dos responsáveis e reparação de perdas sofridas. Mas, ainda o mais importante, é evitar que esses eventos se repitam”, pontua Profª. Elizabeth.

Por |2019-07-04T14:26:29-03:004 de julho de 2019|Institucional|Comentários desativados em RBMT divulga edição sobre mineração e desdobramentos de Brumadinho