17º Congresso Nacional: impacto das tragédias de Mariana e Brumadinho

No primeiro dia de atividades científicas do 17º Congresso Nacional da ANAMT, uma das semiplenárias teve como tema “Mariana e Brumadinho: a repercussão dos desastres do setor de mineração na saúde ambiental”. A atividade analisou as possibilidades que estavam ao alcance da Vale para impedir a tragédia, seus impactos na saúde das equipes de resgate e no meio ambiente da região, bem como formas de prevenir que isso se repita.

Com 35 anos de experiência no setor de mineração, o Dr. Mario Parreiras de Faria – auditor Médico do Trabalho e mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – alertou para o descaso da Vale com a segurança dos trabalhadores na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).

“A barragem montante, como era a do Córrego do Feijão, é o mais suscetível a causar danos ambientais, causar acidentes de trabalho e também é o mais barato. A barragem já tinha apresentado vários problemas. Várias empresas consultadas alertaram à Vale sobre a insegurança da barragem, mas suas análises foram dispensadas”, alertou Dr. Mario.

“Foram apresentadas formas de melhorar a segurança do Córrego do Feijão, mas a Vale escolheu justamente o pior método apresentado, apesar dos alertas das empresas de consultoria de segurança. Uma empresa que se recusou a fazer a perfuração com água na barragem, que era o método menos seguro, foi removida do projeto”, revelou.

O especialista discorreu ainda sobre os estudos do impacto do acidente de Brumadinho em toda a região. Do ponto de vista ambiental, os rios da Bacia do Rio Doce passaram a apresentar níveis elevados de mercúrio, arsênio, níquel e chumbo, todos excedendo as diretrizes de qualidade da água na região. Nas cidades vizinhas, houve um aumento também de problemas respiratórios, o que aponta para a necessidade de um acompanhamento de longo prazo da saúde das populações locais.

Além disso, houve também um grande impacto socioeconômico, com perda de moradia e a destruição do provimento de milhares de pessoas que trabalhavam não só em atividades de mineração, mas ainda daqueles que tiveram plantações e animais impactados pelo rompimento. Como consequência, a região local tem apresentado índices aumentados de suicídio, depressão, uso de drogas, prostituição e alcoolismo.

“Precisamos discutir os parâmetros do que estamos usando para dizer quer um local é seguro para o trabalho na mineração, do contrário tragédias como essa se repetirão”, disse Mario Parreiras. Também compuseram a mesa o Dr. Alexandre de Lima Santos, e a Dra. Claudia Marcia Silva Nahas.

Por |2019-05-16T13:16:05-03:0016 de maio de 2019|Eventos|Comentários desativados em 17º Congresso Nacional: impacto das tragédias de Mariana e Brumadinho