Conferência Pan-Americana: tecnologias e saúde pública na atenção ao trabalhador

A Conferência Pan-Americana de Saúde do Trabalhador e Ambiental – Rio 2018 iniciou nesta sexta-feira (28/09) sua programação de conferências e mesas redondas com temas que vão desde a gestão da saúde pública até o futuro da Medicina do Trabalho e o impacto de novas tecnologias na profissão.

Na palestra de abertura, William Buchta, presidente do American College of Occupational and Environmental Medicine (ACOEM), falou sobre os principais desafios do segmento para o futuro, em especial a falta global de profissionais de Saúde do Trabalho. Ao falar sobre as possíveis respostas para esse problema, o presidente da ACOEM ressaltou que podemos estar vivendo a tempestade perfeita para uma mudança de paradigmas e implementação de novas tecnologias para melhorar o cuidado ao trabalhador.

De acordo com Buchta, avanços tecnológicos como blockchain, inteligência artificial e automação mudarão não só o ambiente de trabalho nas próximas décadas, mas também a forma como a saúde destes trabalhadores será acompanhada.

“A verdade é que muito se fala de big data, mas ainda estamos começando a compreender as possibilidades que isso oferece. Com ela, poderíamos ter informações ainda mais detalhadas sobre acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, a forma de trata-las e preveni-las”, explicou o especialista. “Isso vai mudar as próprias perspectivas do trabalho da pesquisa médica. Ao invés de tentar colher dados isolados, poderemos ter acesso a grandes bancos de dados extremamente precisos sobre a saúde da força de trabalho”.

Ele ainda mencionou o uso de tecnologias vestíveis que registram dados biométricos e o acompanhamento em tempo real da saúde dos trabalhadores dentro de uma empresa como uma realidade possível para as empresas no futuro, além de uso de inteligência artificial no processo de tomada de decisão de ações de prevenção da empresa.

“Diante disso tudo, acredito que o déficit de profissionais de saúde do trabalho – como médicos e enfermeiras preparados para lidar com trabalhadores – é preocupante, mas pode ser mitigada pelos ganhos de eficiência proporcionados por estas novas tecnologias”, concluiu.

Sistema público de saúde

Na segunda conferência, Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) falou sobre a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e seu papel no atendimento ao trabalhador.  Ela também comparou os sistemas de saúde pública de Brasil, Reino Unido e Canadá.

“A universalização do atendimento é algo que vem desde a concepção do SUS, o que é diferente de outros países em desenvolvimento. Muitos deles adotam um modelo de cobertura gradual”, explicou Gulnar. “Hoje, o trabalhador brasileiro precisa ainda mais deste acompanhamento do SUS. A Reforma Trabalhista intensificou a precarização das relações de trabalho, individualizando relações de trabalho e aumentando a jornada e a exposição dos trabalhadores”.

A presidente da Abrasco também criticou o avanço da iniciativa privada no National Health System (NHS), que é o sistema de atenção pública do Reino Unido. De acordo com Gulnar, essa modificação tem gerado uma série de debates a respeito da saúde pública britânica.

“Enquanto o SUS chega aos seus 30 anos, o NHS faz 70 e está enfrentando questionamentos e dificuldades. O setor privado tem entrado no núcleo do sistema para arcar com alguns custos da saúde. Há hoje um grande debate no Reino Unido sobre esse movimento e importantes manifestações a favor da sua manutenção inteiramente pública”, ressaltou.

Por |2018-09-28T11:10:23-03:0028 de setembro de 2018|Eventos|Comentários desativados em Conferência Pan-Americana: tecnologias e saúde pública na atenção ao trabalhador